A Morphin Grid pulsava, uma tapeçaria invisível de poder conectando dimensões, mundos e energias. E onde há luz, há sombra. Onde há heróis para defender a existência, há vilões que buscam dobrá-la à sua vontade. A notícia da aparição de um novo portador da Morphin Grid em um mundo tão volátil quanto a Amálgama, um universo que eles consideravam maduro para a colheita, reverberou pelos planos mais sombrios da existência.
Muito antes da chegada de Strike a Neo-Edo, e até mesmo antes do Mestre da Morfagem Arco-Íris sequer pensar em um "mundo de teste", as entidades mais malévolas da vasta galáxia e além haviam sentido a "Convergência". Não a convergência caótica de mundos que havia unido as realidades dos heróis e demônios, mas uma convergência de propósito. Os Rangers estavam adormecidos ou esquecidos neste plano, uma anomalia em seu caminho de conquista. Mas agora, algo havia despertado. Um novo Ranger. E isso não podia ser tolerado.
Em um plano de existência que pairava à beira da realidade conhecida, em uma dimensão onde a escuridão era moldada em pedra e a luz da estrela mais próxima era filtrada por uma névoa púrpura eterna, a Convergência do Mal se reunia. Não era um encontro casual, mas uma convocação imperiosa, impulsionada por uma força antiga e por um inimigo comum: a Morphin Grid e aqueles que ousavam usar seus poderes para o bem.
A sala do concílio, esculpida em obsidiana polida, era vasta e ecoante, iluminada apenas por cristais escuros que irradiavam uma luz sulfurosa e sombras dançantes. No centro, uma mesa circular de pura escuridão espelhava a vasta escuridão do espaço exterior que podia ser vislumbrada através de uma única e gigantesca janela panorâmica. Os tronos, feitos de ossos petrificados e metal retorcido, eram ocupados por figuras que eram o próprio pesadelo encarnado para legiões de planetas.
Em um dos assentos mais proeminentes, a figura maciça de Lord Zedd reclinava-se, sua armadura esquelética e vermelha brilhando com uma malevolência contida. Seus olhos injetados em sangue varriam a sala, avaliando os outros presentes com um desprezo palpável. Ao seu lado, a outrora rainha do mal, Rita Repulsa, agora em sua forma mais antiga e poderosa, gargalhava baixinho, batendo seu cetro ornamentado no chão, um som estridente que ecoava pela câmara. Ela já havia sido uma ameaça planetária, mas a fusão dimensional lhe concedera acesso a magias esquecidas, tornando-a ainda mais perigosa.
"Silêncio, sua bruxa estridente!" a voz gutural de Zedd cortou o ar. "Temos assuntos mais urgentes do que suas risadinhas tolas."
"Ah, Zeddinho, sempre tão sério! E pensar que um dia fomos um só," Rita retrucou, um sorriso maquiavélico em seus lábios rachados. "Mas sim, o problema que nos reuniu é de fato, intrigante."
Do outro lado da mesa, envolto em um manto escuro que parecia absorver a luz, estava Master Vile, pai de Rita e uma entidade de poder arcano incalculável. Sua presença era tão pesada que até Zedd sentia um arrepio. Seus olhos brilhavam com uma astúcia ancestral, e ele não se dignou a participar da pequena briga familiar. Sua mente estava em algo maior, algo que tocava as profundezas da Morphin Grid.
Em outro trono, um monstro marinho grotesco, com olhos amarelos e uma aura aquática maligna, resfolegava. Era Diabolico, o demônio do fogo e da água, ex-general de Rainha Bansheera. Ele estava ali, ressentido, mas leal à causa maior.
Ao lado dele, com sua armadura preta e detalhes em ouro, o imponente Mesogog estava sentado, com os braços cruzados, sua pele de dinossauro reptiliana reluzindo na penumbra. Ele era o epítome da crueldade e da inteligência científica, sua mente focada na aniquilação da raça humana e na restauração da era dos dinossauros. Ele considerava os outros "místicos" um tanto primitivos, mas reconhecia o poder destrutivo que representavam.
"Este conselho é uma piada," rosnou Mesogog, sua voz um sibilo arrastado. "Perdemos tempo com rivalidades mesquinhas enquanto a ameaça cresce."
"A ameaça que você ignorou, dinossauro," retrucou uma voz metálica e fria. Venjix, a inteligência artificial malévola, projetava sua imagem holográfica no centro da mesa, uma cabeça robótica com olhos vermelhos brilhantes. Ele havia sobrevivido à sua própria "derrota" em outra dimensão e encontrara um novo lar neste universo de convergência, sua programação focada em erradicar toda a vida orgânica. "Minhas redes detectaram as flutuações de energia da Morphin Grid muito antes de seus olhos arcaicos."
"E o que a sua 'rede' detectou, parasita digital?" zombou uma voz feminina, afiada como lâmina. Astronema, a Princesa do Mal e Rainha das Trevas, sentava-se elegantemente em seu trono, seu cabelo multicolorido fluindo como uma cascata de galáxias mortas. Ela era a astúcia e a beleza distorcida, com um exército de Darkonda à sua disposição, e uma sede de poder insaciável.
"Detectei um pulso. Um único pulso. Forte o suficiente para despertar a atenção da Grid. Forte o suficiente para... invocar um novo portador," Venjix projetou um mapa estelar, com um ponto brilhante no que eles identificavam como a Amálgama. "E o pulso foi confirmado. Um Ranger. Azul. E um segundo, Vermelho."
A sala silenciou. Um Ranger. Não uma lenda esquecida, mas um Ranger ativo.
"Um único Ranger?" A voz de Scorpina, parceira de Goldar e guerreira leal de Zedd e Rita, era cheia de desprezo. Ela estava de pé, ao lado de Zedd, sua armadura dourada e garras prontas para a batalha. "Nós lidamos com legiões de Rangers em nossos piores dias."
"Esta 'Amálgama' é um cadinho de energias. Os poderes de lá são voláteis. Os 'Quirks', os 'Demônios', os 'Yokai'... há muito que pode dar errado," Master Vile finalmente falou, sua voz rasgando o silêncio. "Um Ranger neste ambiente, com a Morphin Grid adormecida, é um desequilíbrio. E um risco."
"Ele é um risco para a nossa conquista!" Lord Zedd bateu com o cetro no chão. "Eu estava prestes a finalizar os preparativos para o ataque àquela 'Academia de Heróis'. Meus Putties já estavam sendo reforçados com DNA de Nomu!"
"E eu estava finalizando os planos para absorver a energia espiritual dos Yo-kai e dominar a Nação Ninja!" Diabolico resfolegou, chamas fracas saindo de suas narinas.
"Este Ranger tem um Master Morpher aprimorado," Venjix continuou, ignorando as interrupções. "Minhas análises indicam que ele pode acessar qualquer forma Ranger, embora com limitações iniciais. Isso é perigoso. O Mestre da Morfagem Arco-Íris... Ele sempre foi uma anomalia irritante na Grid."
Rita Repulsa de repente soltou uma risada estridente. "Um Ranger! E ele apareceu do nada! Ah, Zeddinho, sinto o cheirinho de uma nova diversão! Mas... por que ele não está no nosso radar completo? Por que ele não é uma ameaça total ainda?"
"Porque ele está operando na discrição," Mesogog interveio, sua inteligência calculista se mostrando. "Ele é um novato. Possivelmente subestimado. E pelo que os drones de Venjix detectaram, ele já se infiltrou em um dos pontos mais estratégicos da cidade, com uma base de operações secreta e, mais preocupante, adquiriu a cooperação de um cientista humano excêntrico. Ele está se preparando."
Isso era o ponto. Eles estavam acostumados a Rangers que anunciavam sua chegada, que lutavam abertamente. Um Ranger que operava nas sombras, se organizando... isso era uma complicação.
"Ele é uma semente," Master Vile pontificou, seus olhos fixos no mapa holográfico. "Uma semente plantada pelo Mestre da Morfagem. Se não for arrancada agora, antes que crie raízes profundas nesta amálgama fértil, pode florescer em algo que não poderemos conter."
A gravidade das palavras de Master Vile ressoou. Ele, mais do que qualquer outro, entendia as profundezas da Morphin Grid e as ameaças que ela representava aos seus planos.
"Então, o que faremos?" perguntou Astronema, sua voz suave, mas com uma borda de impaciência. "Vamos enviar um exército de Cogs? Ou talvez os Space Mutants?"
"Não," Lord Zedd rosnou, o punho cerrado. "Não podemos subestimar. Um Ranger não é derrotado por capangas comuns, por mais aprimorados que estejam. Precisamos de uma demonstração de força. Uma que atinja este 'Ranger Azul' onde ele estiver mais vulnerável. Mas, mais importante, uma que o traga para a luz. Que o force a se revelar completamente."
Venjix projetou uma imagem do Distrito Kaminarimon. "Ele operou lá. Salvou um civil. Pedrux. O cientista. Ele é o primeiro contato do Ranger. E seu novo 'recrutado'. É por ali que ele pode ser testado."
Rita Repulsa bateu seu cetro novamente, mais forte desta vez, um sorriso largo e perverso em seu rosto. "Ah, Zeddinho, você finalmente está pensando! Uma armadilha! Para o pequeno SPD Ranger Azul! Será tão divertido!"
Master Vile fechou os olhos por um momento, meditando. "Precisamos de um ataque coordenado. Não para derrotá-lo imediatamente, mas para avaliar suas capacidades. Para ver o quão 'aprimorado' é o Master Morpher. E, claro, para eliminar essa 'semente' antes que ela se torne uma árvore."
"Um ataque inicial, então," Mesogog sibilou, seus olhos calculistas. "Uma prova de força para testar o terreno. Que criatura vocês sugerem? Algo que possa lidar com as peculiaridades deste mundo sem chamar atenção desnecessária do resto das 'forças do bem' antes da nossa invasão principal."
A Convergência do Mal estava em movimento. O aparecimento de Strike havia acelerado seus planos, transformando uma espera estratégica em uma caçada imediata. O novo Ranger estava prestes a descobrir que, neste mundo de amálgama, seus inimigos eram tão diversos e perigosos quanto os heróis, e que eles já estavam esperando por ele.
(Fim da Parte 1)